segunda-feira, julho 23

Isso não é um Texto!

Não! Isso não se trata de um texto.
Não trabalho com mensagens metalingüísticas e muito menos questionadoras.
Não trabalho, não faço dinheiro... Eu não tenho dinheiro.
Não falo da imprensa que se colore de vermelho, muito menos da possibilidade de saneamento básico. Esse texto também não fala sobre amor, vermes ou substancia tóxica.
Isso não é um texto.
Isso também não são palavras e muito menos linhas que se formam com a soma de palavras, que por fim deveriam formar parágrafos para quem sabe formar textos...mas isso não é um texto!
Isso não fala de lembranças, de saudades e muito menos de medos.
Isso não é um relato.
Não mandaram o homem pra lua, não curaram o câncer também. Não fizeram refrigerante Diet e não destruíram a esperança no Iraque. O Iraque não existe!
Isso não é uma nota.
Não existe mar. Não fizeram à água e muito menos o sal. Fizeram as geleiras. Derreteu.
Isso não é um prólogo.
Talvez seja um golpe, mas no fundo também não o é.
Isso não é poema.
Mesmo que casa rime com asa. Não temos asas e nem tinta fresca. Não temos imaginação.
Não temos teto e muito menos microondas. Não existem ondas.
Isso não é um roteiro.
Isso não tem começo.
Isso não tem cheiro. Não há perfumes e muito menos fedor. O ralo não fede. A cozinha não tem comida e portanto não tem cheiro de carne assada ou repolho refogado.
Isso não é verdade.
E também não é mentira.
Isso não é real.
Isso não tem sonho e nem idéia.
Isso não tem explicação e só pra lembrar... Isso fica fora de sentido.
Isso não tem porque e muito menos fim.
Isso não é fim.

quarta-feira, julho 4

"De repente. Repente"

Por mais que as coisas se quebrem
Mudar não custa nada
Mesmo tudo aquilo que assusta
Convém o risco que corre
Quanto mais se alimenta a conquista
Mas vale um beijo na boca
Quanto mais a malandragem sustenta
Mais o egoísmo assombra
Quanto mais a fome atormenta
Mais o sono se perde
Quanto mais o tempo derruba
Mais a demora percorre
Quanto mais se pensa no medo
Mais do mesmo se sente
Mesmo que seja tarde
Ainda dá tempo.
E mesmo que tudo não volte
Ainda existe aquele recomeço
E de todas as sombras do dia
Você se torna a menos escura
E de todas as formas de vida
É possível encontrar um ponto de tudo
De tudo
De tu-do.

segunda-feira, julho 2

Ponto de ônibus


São 03h da madrugada. Ninguém na rua. Ponto de ônibos perto do puteiro.
São 03h15 da matina e o ônibus não vem.
Eu podia caminhar até o outro ponto e pegar aquele outro que dá uma volta tremenda.
Eu podia ficar aqui e esperar, porque se eu for pra lá ele aqui pode passar.
Mas ficar aqui também esperando é um saco.
(...)
Outro dia eu peguei aquele que dá uma volta tremenda. Mas foi no outro dia.
Se eu sair daqui desse ponto esse pode passar, e o outro demorar mais ainda.
Mas ficar aqui esperando é um saco também.
E se quanto mais eu espero menos eu vou esperar porque não vou esperar com a incerteza de esperar nada, certo?
Bonito isso que eu disse agora... "quanto mais eu espero menos eu vou esperar "...bonito mesmo. e foi eu quem disse isso mesmo?
O busão não vem...
será que no outro ponto mais longe já passou aquele que dá uma volta tremenda?
Não...melhor eu ficar aqui. Se eu já esperei bastante é porque falta menos pra esperar...
O outro pára longe de casa também. Eu teria que subir aquela rua lá...e tal...
(...)
O saco é esse poste com a luz piscando...
Olha! Aquilo era um rato saindo do bueiro? Que nojo...
E o busão ainda não veio...
(coçando o queixo)
Vou pro outro ponto... talvez eu espere menos do mais que já esperei aqui né?
"vrrrrrrrrrrrrrummmmmmm"
Ih droga...não é que passou!?
Vou ficar nesse mesmo, vai que passa outro logo...



"Se eu já esperei bastante é porque falta menos pra esperar..."