sexta-feira, agosto 24

Em Pauta

E quando me falam das canções que já ninguém mais ouve no rádio. Quando a escutam os olhos brilham, voltam lembranças, um singelo riso solitário no canto dos lábios. Um devaneio particular. Meu pai nunca fumou charutos e não tenho um retrato muito firme na mente sobre as suas manias. A música tocava apenas.
Lembro que quando corríamos em disparada eu sempre ganhava porque não tinha medo de pisar descalça no chão. Os adultos pensam demais nas conseqüências. Para crianças apenas correr basta, mesmo que lhe entrem cacos, bichos ou gravetos nos pés. Ele também nunca me obrigou a comer legumes mas nunca disse que eu não os deveria comer. Eu os devorava, queria que ele sentisse orgulho. Imagina que glória, ele falando aos mais chegados que a menina mais velha comia todos os legumes como uma mulher de verdade.
Ele me cobrava horários e eu falava em códigos com os amigos da janela que não poderia mais sair - tinha que tomar banho, escovar os dentes, comer e dormir. Ele dormia antes e eu corria até o portão pra me despedir.
Era fiel ás suas teorias, eu não sabia que ele poderia saber mentir também. Achei que só as pessoinhas da minha idade saberiam realmente inventar histórias pra poder fugir das broncas e dos apuros.
Ele ficou mais velho também nos últimos cinco anos assim como eu. Os olhos dele as vezes parecem lembrar as sutis energias do passado, pena que os meus preferem cultivar sutilezas para o futuro e isso não inclui mais ele.
É que parece que depois do ultimo tapa na cara você aprende a ser tão egoísta quanto foram com você.
Ano que vem eu me formo.
Depois eu me caso.
Vou viajar.
E eu cheguei até aqui. Ainda bem que eu nunca tive medo de machucar os pés nos gravetos...nos cacos...eu sempre corri mais rápido justamente por causa disso.
Parece que não mas a gente carrega dentro do peito muita coisa que nem sabe direito pra que serve e porque tá guardando.
Esses dias depois do meu aniversário fiquei fazendo pautas do que já me fez bem. Descobri que dentro de mim ainda mora aquele beijo que eu nunca vou esquecer, um sorriso que eu nem sabia que tinha visto, uma piada sem graça mas que rendeu comentários, um amigo que já me encontra na rua e apenas sorri de longe, o porre mais desnecessário, novos e velhos vicios, cansaços, dores de cutuvelo, e etc.
Tô partindo pra outros rumos. Cansei da antiga rotina, dos comentários que caracteristica demodê e toda aquela chatice.
Não preciso de mais do que já tenho e além daquilo que eu pretendo. É isso.
São 22 anos...como um amigo sempre me diz:
"É o que tem pra hoje" Mas amanhã...