Então amanhecera cerrado o dia. Não havia motivos de festa ou qualquer tipo de consideração. Nascera o pobre Dito no mesma dia em que veio ao mundo a coitada da Dita. Cada um em uma zona. São Paulo já era grande.
Dito pisou no colégio no mesmo dia em que Dita. Não encontraram amigos, escola de periferia. Melhor se aliar a alguns inimigos. Ali constituíram sonhos, dos quais se limitaram a não ser um dia. Dito queria ser Pelé. Dita queria ser Professora.
Cresceram entre milhões, para serem apenas mais um. - Negritude difícil... a vida é preta e a gente que é taxado pela cor... - O pai de Dito dizia isso todos os dias ao menino – Deixa de bobagem, Pelé nem negro é, se pintou de negro, pra fazer a fama mais bonita. Tem que trabalhar, tal como o pai. Não fiz fama, mas fiz de você menino de saúde.
Dita não conheceu a mãe, logo que a menina nasceu a “fulana”, como todos diziam, havia “picado a mula”. Foi criada pela irmã por parte de pai, que aos 17 anos já era mãe de duas meninas pequenas. A casa em que moravam era humilde, tinha apenas dois cômodos para comportar uma familia de seis pessoas, sendo elas a irmã, Dita, as duas meninas pequenas, o Tio e o irmão do Tio. Quando a comida rendia, era motivo de oração.
Os dois pararam de estudar na mesma época. Dita foi ajudar a irmã que trabalhava em uma casa de familia, enquanto Dito foi seguir junto com o pai a guerra de manter os pés no chão.
Os dois sentiam cansaço e angustia em quase todas as mesmas noites. Dita conheceu a noite. E dela fez render os presentes que sempre quis ter, os quais ela sempre vira na tevê.
Dito aprendeu a agir de dia, começou com um pão, resolveu arrumar sapatos, em seguida, montou o guarda-roupas. Assim, mais tarde, conheceu a noite, mas era por mera diversão.
Enquanto se divertia, avistou a moça de curvas perigosas, de sorriso faceiro e olhos judiados. Ela estava de prontidão, mantendo o trabalho, que para muitos era artigo de prazer.
Foi quando se conheceram, não havia muito o que conversar, sempre foram a mesma pessoa, sempre estiveram na mesma sintonia, porém, sempre em “zonas” diferentes.
Descobriram que no mundo existia mais um do qual a vida fosse, tão indiferente. Orgulharam-se das semelhanças e em motivo de comemoração se embriagaram...embriagaram por fim os olhos, a alma. Embriagaram-se do cheiro da pele, da cor dos cabelos. Embriagaram-se de cor.
Cansaram-se em seguida da novidade, o encontro tornou-se aceitável, e por fim partiram juntos. Fizeram planos, e deles se limitaram a não viver, mas aceitavam isso de forma doce, porque podiam compartilhar a solidão juntos. E eram tão bom apanhar da vida e saber que alguém, por mais triste que estivesse, te ajudaria a levantar com um sorriso bobo nos rosto, que só queria dizer “vamos em frente.”
Contos de fadas não usam sapatos de cristal.