segunda-feira, dezembro 10

Diamante.

Os óculos refletiam a entrada da sala principal. Ela entra e se senta. Não é necessário dizer bom dia. O mais vistoso do homem que estava em posição poderosa do outro lado da mesa era seu anel. Seus dedos dedilhavam. Ela simplesmente estralava os dedos por debaixo da mesa.
Ele diz em tom quase imperceptível – trouxe? Vai quitar a divida velhota?
Não é preciso que se diga mais nada. Com fúria nos olhos ela lhe entrega o dinheiro em notas de 50. Simplesmente três maços. Ele sorri. Ela nunca marcou os traços do seu rosto. Um sorriso e anel de diamantes bastavam.
Ele faz sinal para que ela saísse. O dinheiro era tudo que ela teve em sua vida repleta de uma esperança indefinida. Não queria perder uma economia cultivada dentro do bule de café durante anos para aquele “anel”. Ela caminha até porta e ainda de costas só consegue dizer com toda convicção. – Agiota de merda!
Nunca tinha matado. Nunca tinha atirado. Nunca tinha gritado.
Aquele dia Matou. Roubou, fugiu e tropeçou no próprio orgulho.
No dia seguinte as notas dos jornais eram enfáticas – “Mulher sem piedade mata deputado e deixa família inconsolável” - O depoimento da viúva e de amigos demonstrava a “boa conduta” do deputado.
A mulher sentada em sua sala. Com uma tevê de 14 polegadas e segurando o cabo de sua antena nas mãos para que a imagem não ficasse destorcendo, acompanhou o jornal sentindo-se apenas uma secundária na história que ela mesma fizera acontecer. Na sua casa de dois cômodos, sem geladeira, fogão, sofá e luxo, sentiu-se mais acuada do que nunca. Seus vizinhos da Favela da Paz ficariam surpresos em saber que tudo que ela cultivara em anos de uma vida miserável em nome do filho que a abandonara, havia se transformado no sangue de uma das pessoas mais sujas que já conhecera. Hoje ele era a vitima. A mulher passara por esta mesma situação desde sua eleição. A morte nunca justificaria meios. Obviamente. Mas a vida, essa sim é cheia de informações equivocadas.
Quanto à sua condenação ouviu o delegado murmurar – Não passa de uma velha!
Não foi presa. Não é comentário de mídia. Não tem mais economias. Mas mantém como um filho sua tevê de 14 polegadas e aguarda com ansiedade a retrospectiva de final de ano da Globo pra saber se alguém fala de sua façanha. Mas sabemos que não...

2 comentários:

Ana Paula Fonseca disse...

Puta que pariu Paula, se ferrar!!!

Existem pessoas que nascem para saber e outras que nascem sabendo. No seu caso é algo além. Nasceu sabendo e, não por acaso, descreve coisas como essas assim... naturalmente. Parece que tudo isso é fácil de fazer, no seu caso pode ser, mas no meu nem tanto. Desculpa aí, heim Galega.

Se eu ganhasse na Mega Sena patrocinaria você e suas idéia, com certeza eu lucraria! hahahaha.

Mais uma vez Panabéns Galega.

Hei, to de saudadenha tb, minhas passagens? Estratégicas,hahaha, sempre pra deixar saudades!

Bora fazer algo!

Beijo

Anônimo disse...

Aquele velho comentário de sempre:
Qdo crescer quero escrever feito você!

Desde q li Vermelho, tenho essa idéia em mente!

Ôu, bolando um convite oficial visinha:Aguarde! hahahaha

bjo Lôra