quinta-feira, agosto 10

Duas Horas e Vinte Minutos.

Ela tinha unhas compridas e parecia enfeitiçada pelo perfume que emanava da loja francesa do outro lado da rua. Uma alameda refinida, com requintes que pareciam fazer todos aspirarem dinheiro, assim era o ambiente e assim sempre seria. Ela andava com classe para não danificar os saltos de seus únicos sapatos de bico fino que a faziam desequilibrar como um joão bobo sacudindo uma bolsa prateada que ofuscava a vista.
Era ali que ela via a esperança da riqueza, aguardando a noite e os carros luxuosos que trariam todo o sonho de ser umas daquelas mulheres que desfilaram durante todo dia sob o sol e enfrentando as vitrines finas que pareciam ter vida própria com suas cores fortes e ao mesmo tempo tão delicadas.
Ela mataria alguém por um vestido, um perfume, um chapéu, um casaco, uma bolsa, um chambre, lenços, laços, rendas e tudo que uma mulher como ela desejaria mas que devido à sua realidade se dava apenas ao luxo de ter apenas as unhas retocadas de um vermelho barato que fácilmente traziam um ar mais convidativo junto ao seu decote generoso e, ao olhar cafejeste, um tom poético e repleto de luxuria. Ela não se importava com o que pensariam, era com suas unhas vermelhas e decote devidamente escolhido que ela teria o seu conforto e elegância algum dia.
Ela deixava os cabelo cairem sobre os ombros descobertos, e por mais frio que estivesse seu corpo permanecia quente diante da espectativa de que finalmente ela encontraria o passaporte para ingressarer em uma vida melhor e cheia de regalias, de alguma forma naquele dia ela havia saido de casa com uma espectativa maior e acreditava que seria recompensada finalmente depois de uma incessante procura que se estendia por longos dias – ela queria sucesso, e que fosse da maneira mais rápida possivel.
A noite caia como sempre, como se fosse um manto negro, e de longe ela avista aquele que poderá ser o seu caminho promissor à fortuna e ao delirio do luxo. Ele se aproxima lhe lança um olhar convidativo,lhe oferece um drink e depois um sorriso, o carro nem é desligado, o cinto de segurança nem é colocado e em minutos eles param em um lugar discreto porém não menos fino, correspondendo ao bom gosto que naturalmente fazia parte da compainha que ela, suas unhas e decotes acabavam de se deparar.
Foram exatamente duas horas e vinte minutos de uma paixão avassaladora e súbita, evolta de murmurios e gemidos que pareciam que jamais sairiam de suas cabeças. Ele a elogiava e afagava seus cabelos, logo depois tranformav-se em um selvagem sem moral. Seria ele casado? – Não importa, tudo será bom quando assumirmos uma chance de sermos felizes – era assim que ela pensava enquanto tentava de todas as formas fazê-lo o homem mais completo e feliz de todos os tempos. Ali, entre aquelas quatro paredes elas seria tudo o que ele precisava, principalmente a fuga de seus problemas. Foram sorrisos e peripécias incontáveis. Os olhos dela, depois de tanta dedicação, aguardavam o um retorno depois de tantas noites pela procura do seu passaporte para uma vida de acordo com os seus sonhos. Ele sorriu, disse bom dia e saiu.
E como tantas vezes, ELA, teria se alimentado de esperança por aproximadamente duas horas e vinte minutos. Ele seria mais um que não ligaria, e provavelmente estava com tanta pressa que deixou o dinheiro sob a bancada da mesa sem contar o troco a mais que havia deixado, mas supostamente ele teria acreditado que era por merecimento deixar uns trocados a mais a uma jovem tão cheia de talento. Agora ela tinha pressa em dormir, a proxima noite seria melhor, e acreditando nisso ela movia os seus dias.

Paula Barboni

5 comentários:

Anônimo disse...

Essa provavelmente pode enviar um currículo para onde minha mãe gerencia. Lá paga bem e tem um quarto só dela. Cozinheira, lavadeira e piscina para os dias quentes... brincadeiras à parte, é um texto literário, um conto de cotidiano que eu não ouso conhecer. É um belo texto.

Anderson. disse...

Ainda não sei qual pode ser pior:Sonhar ou não sonhar.
De\ qualquer\ maneira,o problema é viver em um sonho,consciente ou não...

Anônimo disse...

Puts triste eu diria, conto realista ou realidade em um conto....
Sonhos são alimentos pela esperança e por isso não morrem facilmente...
Bjs

Mauricio Telles disse...

Nossa....focou quente aqui de repente!
Adorei sua narrativa Paulinha...
muito legal mesmo...

Anônimo disse...

Oláaa!!
Depois de um tempo de hibernação, eis-me aqui...
Gostei da narrativa....muitas mulheres vivem assim...eu não diria sonhadoras,diria acomodadas em uma vida que não acrescenta nada...parabens...